Na manhã do dia 24 de novembro de 2019, os peixes-bois marinhos “Vitória” (de 4 anos) e “Parajuru” (de 6 anos) foram reintroduzidos no estuário da Barra do Rio Mamanguape, litoral norte da Paraíba. Um momento emocionante e muito significativo para a conservação da espécie, que está ameaçada de extinção no Brasil. Os animais passaram sete meses em um recinto de readaptação se preparando para serem reintroduzidos e reintegrados aos ambientes naturais. No espaço (de 4.131 m², em águas estuarinas, no manguezal), eles aprenderam a conviver com a variação das marés, o mangue, correntes marítimas, mudanças de salinidade, temperatura da água, interagiram com outros organismos aquáticos e experimentaram novos itens alimentares, como algas-marinhas encontradas na região. E após serem acompanhados durante todos os meses pelas equipes do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho e da APA da Barra do Rio Mamanguape/ ICMBio e passarem por exames clínicos realizados no início de novembro, os animais, saudáveis e aptos para serem soltos, agora estão vivendo livres na natureza.
A soltura consistiu na abertura dos portões e, com o auxílio de redes de contenção, os animais foram direcionados para a parte externa do recinto de readaptação. “Vitória” e “Parajuru” ganharam um equipamento de monitoramento satelital (semelhante a uma boia com uma antena) e estão sendo acompanhados e monitorados diariamente pelas equipes envolvidas. Desta forma, “Vitória” e “Parajuru” se juntam aos outros peixes-bois reintroduzidos e nativos monitorados na região. De acordo com o pesquisador e médico veterinário Dr. João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, a APA da Barra do Rio Mamanguape é uma região propícia para essa reintrodução da espécie, sendo uma das principais áreas de ocorrência de peixes-bois marinhos no Brasil, um local que ainda dispõe dos principais atributos ecológicos, contando com um importante estuário, ambiente marinho, fontes de alimentação, qualidade hídrica, águas calmas e protegidas, e, além disso, trata-se de uma área de proteção ambiental.
“Quando soltos, os peixes-bois marinhos vão estar de alguma maneira convivendo nestes ambientes de estuário, indo para praias que eles ainda vão estar desbravando, e esse processo todo traz para o trabalho de conservação uma das ações mais desejadas, que é a soltura desses animais e, sobretudo, ter esses animais adaptados às condições de vida livre, interagindo com outros peixes-bois. Além disto, ter os peixes-bois nestes ambientes e a sociedade convivendo de maneira harmônica com os peixes-bois, nos traz a esperança e a motivação aos esforços desprendidos em prol da conservação da espécie”, enfatiza João Carlos.
O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental - é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil e conta com a parceria da APA da Barra do Rio Mamanguape e o CEPENE/ICMBio. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas.
RELEMBRE A HISTÓRIA DE “VITÓRIA” E “PARAJURU”
Era madrugada do dia 1º de janeiro de 2015, quando a equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho (PVPBM), da Fundação Mamíferos Aquáticos, foi acionada para fazer um resgate de um filhote de peixe-boi marinho que havia encalhado vivo na Praia do Oiteiro, localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape, litoral norte da Paraíba. Quem o encontrou foram dois pescadores da região, “Seu Canário” e “Seu Passinho” – foi “Seu Passinho” inclusive que batizou o filhote com o nome de “Vitória”. A equipe do PVPBM, junto com a APA, prestou os primeiros atendimentos ao animal, que ainda apresentava resquícios de cordão umbilical. “Vitória” estava bem fisicamente, pesava 39 kg e media 131 cm. Na ocasião, a equipe verificou se a mãe estava próxima ao local do encalhe para tentar reintroduzir o filhote, porém não foi encontrada. Sendo assim, “Vitória” foi encaminhada para a sede do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste – Cepene/ICMBio - na Ilha de Itamaracá (PE), onde recebeu o tratamento adequado. “Vitória”, uma fêmea saudável - com 4 anos de idade, 404 kg e 2,70 m de comprimento – voltou para a APA da Barra do Rio Mamanguape, onde durante sete meses passou pela etapa de readaptação ao ambiente natural e agora está pronta para ser reintroduzida na natureza. A história de “Vitória” virou até tema de documentário: https://www.youtube.com/watch?v=WdxTHsEKnDI&t=635s
Junto com “Vitória” também veio “Parajuru”, um peixe-boi marinho macho, com 6 anos de idade, 335 kg e 251 cm de comprimento. “Parajuru” foi encontrado ainda filhote encalhado numa na praia de Parajuru, Beberibe (CE), no dia 17 de janeiro de 2013. Foi resgatado pela equipe da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (AQUASIS), pesando 32,5 kg e medindo 126 cm. Na sede da Aquasis, ele recebeu os primeiros atendimentos, e, no dia 25 de janeiro de 2013, Parajuru foi transferido para o Cepene/ICMBio, na Ilha de Itamaracá (PE). No litoral norte da Paraíba, na APA da Barra do Rio Mamanguape, “Parajuru” e “Vitória”, que antes se encontravam em oceanários, estão um amplo espaço (de 4.131 m²), construído em ambiente natural (em água estuarinas, no manguezal) pelas equipes do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, da APA da Barra do Rio Mamanguape, da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Manguezais da Foz do Rio Mamanguape, CEPENE/ICMBio e voluntários da comunidade local. Eles foram os primeiros a inaugurar o espaço direcionado a peixes-bois marinhos em fase de readaptação e aos que precisem de cuidados clínicos especiais.
Fotos: Acervo FMA