“Favo", filhote de uma fêmea oriunda de um programa de conservação, foi flagrado mamando mesmo aos dois anos e meio de idade.
Uma série de registros audiovisuais de um peixe-boi-marinho mamando foi realizada no último mês durante o monitoramento conduzido pelo Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho (PVPBM), realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal por meio do Programa Petrobras Socioambiental. “Favo”, um filhote que vive com sua mãe, “Mel”, na região do município de Cabedelo (PB) foi flagrado por Sebastião Silva, coordenador de monitoramento do PVPBM. É o primeiro registro fotodocumentado no Brasil de um peixe-boi-marinho mamando em vida livre. Até então, só havia registros similares relacionados à animais em cativeiro.
Silva é colaborador da FMA há 8 anos e, desde então, junto com a equipe, participa dos monitoramentos de peixes-bois-marinhos e do atendimento a animais encalhados. Mestre em Ecologia e Monitoramento Ambiental, “Sé Silva”, como é conhecido, coleciona diversos registros importantes ao longo da carreira, mas confessa que este foi um feito surpreendente. “Era apenas para ser um mergulho de rotina em que iria fotografar as feridas em ‘Favo' para fazer avaliação de sua cicatrização. ‘Mel' estava se alimentando e foi quando percebi que 'Favo’ estava chegando perto da nadadeira peitoral dela, onde ficam as glândulas mamárias da mãe. Procurei ficar quieto e o mais ‘invisível’ possível para esperar o que ia acontecer. E foi então que ele começou a mamar!”, conta, emocionado.
Durante o processo de amamentação, que pode acontecer naturalmente até os dois anos de idade, o filhote realiza a sucção do leite nas glândulas mamarias, localizadas abaixo das nadadeiras peitorais O curioso é que Favo” já está com 2 anos e meio e continua mamando. Conforme Jociery Parente, Gerente do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, a relação de “Favo” e “Mel” pode ter sido influenciada pelo fato de "Favo” ter sido atropelado recentemente.
Além disso, a equipe de especialistas do PVPBM afirma que o comportamento de “Mel” mudou desde o nascimento do Favo. “Antes de ser mãe, frequentemente a equipe recebia ligações informando que havia um peixe-boi encalhado nas praias de Cabedelo, com o dorso exposto. Porém, se tratava de "Mel" apenas repousando na praia com a maré baixa”, relata Isis de Almeida, Bióloga Marinha, Técnica Ambiental do PVPBM. A Bióloga relatou ainda que “Mel" costumava interagir com banhistas e se alimentava muito próximo a área de uso humano. Após o nascimento de “Favo”, a equipe percebeu uma mudança no comportamento da fêmea, com um afastamento das aglomerações de pessoas. A alimentação nas praias de Cabedelo continuou, porém em bancos de alimentação mais distantes da margem. Após o nascimento de “Favo”, também foi observada a Mel interagindo com outros peixes-bois-marinhos nativos, incluindo outras fêmeas com filhotes.
As fotos e vídeos completos estão disponíveis nesta página do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho a seguir ou então no Instagram @vivaopeixeboi
A chegada de “Favo” em 24 de dezembro de 2022 foi um verdadeiro presente de Natal para a conservação da espécie:
“Favo" foi o primeiro filhote de uma fêmea de peixe-boi-marinho reintroduzida na Paraíba, um marco para a conservação da biodiversidade marinha no Brasil. Fruto do trabalho incansável de conservação da espécie, "Favo" é filhote de "Mel", uma fêmea de peixe-boi resgatada em 2004, reabilitada e reintroduzida com sucesso na natureza.
O nascimento de “Favo” é um indicador do impacto positivo das estratégias de conservação, que envolvem a reabilitação e reintrodução de uma espécie ainda ameaçada de extinção no Brasil. O nome de “Favo” foi escolhido por meio de uma campanha digital promovida pelo PVPBM, onde mais de 2.500 pessoas participaram, inclusive com a participação de funcionários da Petrobras, patrocinadora do PVPBM. O nome vencedor, inspirado em “Mel”, sua mãe, reflete o carinho e a sensibilização do público com a história destes animais.
“Mel", uma fêmea de peixe-boi-marinho que foi resgatada, reabilitada, solta, e hoje é monitorada pelo PVPBM:
“Mel” foi resgatada ainda filhote, após ser encontrada encalhada na praia de Ponta Grossa, no Ceará. Após anos de cuidados e reabilitação no Centro de Mamíferos Aquáticos/ICMBio, na Ilha de Itamaracá (PE), foi transferida para a APA da Barra do Rio Mamanguape (PB), onde foi readaptada ao ambiente natural e devolvida à natureza em 2009. No transcorrer dos anos passou a utilizar o litoral de Cabedelo e inúmeras vezes observada interagindo com outros peixes-bois-marinhos reintroduzidos e nativos que utilizam a região. Em 2022, em vida livre, se tornou mãe de "Favo”.
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Texto por Aline Gallo
ASCOM Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho